segunda-feira, 1 de junho de 2015

Colecções (3)

Coleccionava buracos. Desde muito novo se sentia fascinado pelo conceito, a ausência, o nada rodeado de matéria, o vazio filosófico.
Começou por peças simples, orifícios regulares ou irregulares na parede e no chão, buracos em peças de roupa. Buracos nas estradas, diversos. Vários buracos de fechadura dignos de nota.
Passou depois a especializar-se em buracos tecnológicos. Furos provocados por lasers em chapas, orifícios produzidos por punções em matrizes metálicas, aberturas provocadas por explosões de alta intensidade em reservatórios industriais…
Mas a peça mais valiosa do museu, responsável por filas intermináveis de visitantes, era o micro buraco negro que adquirira por uma quantia não divulgada ao consórcio nipo-americano que os tinha desenvolvido e começara recentemente a vendê-los.
O drama ocorreu quando a funcionária da limpeza, na sua actividade nocturna, deslocou inadvertidamente o botão que controlava o diâmetro do limite de atracção. Na manhã seguinte, inconsciente desse facto, ao fazer uma demonstração para um grupo de visitantes, o coleccionador avançou a mão que foi apanhada pelo enorme campo gravítico; numa fracção de segundo desapareceu da vista de todos.
A maior parte dos visitantes testemunhas do acontecimento tiveram que passar por sessões de apoio psicológico. A explicação do que de facto aconteceu é ainda hoje motivo de viva polémica entre cosmologistas e físicos das altas energias.

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