sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal em Little Town

O tenente Patrick O’Neill conhecia a cidade como poucos, e muito particularmente a zona conhecida como Little Town, onde fora nascido e criado. Tirando o período em que frequentara a Academia da Polícia, sempre ali vivera.
Conhecia não só a superfície, que os cidadãos bem comportados conhecem, mas também muito do que ocorria nos becos escuros, nas salas das traseiras de bares e locais semelhantes ou em certos salões geralmente considerados acima de toda a suspeita. Durante os séculos dezanove e vinte, Little Town tinha-se expandido quase como um patchwork, um crescimento entre orgânico e anárquico, à medida que vagas sucessivas de imigrantes iam chegando, fugindo da fome ou das perseguições políticas ou religiosas.
Mas O’Neill gostava dos velhos edifícios, conhecia os donos das pequenas lojas, tinha amigos em todas as comunidades que faziam de Little Town aquilo que ela tinha de único.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009


A volta ao dia em 80 mundos

Numa passagem pela FNAC - e sim, o Brinca comigo! está lá à venda, na estante Ficção Científica ;) - acabo de ver A volta ao dia em 80 mundos, de Julio Cortázar - um dos membros da Fantástica Trindade que preside ao meu culto literário pessoal - recentemente publicada pela Cavalo de Ferro.
Quando regressei a casa não pude deixar de ir folhear a edição de bolso do original, comprada em Março de 1974 - quem diria o que ia acontecer um mês depois - pela módica quantia de 84 escudos (os dois volumes!).
Para os leitores de idade menos avançada, 200 escudos <> 1 euro :)
A edição é de 1970, da Siglo XXI de España Editores, S.A., publicada em Madrid, anunciada como "Quinta edición, primera de bolsillo". A primeira edição foi no México em 1967; as três seguintes foram em Buenos Aires, em 1968.
Para informação dos meus amigos bibliófilos - olá Pedro Marques :) - aqui vão também as capas.
É Cortázar no seu melhor, como um festival de fogo de artifício!


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Todos os dias há novidades…

Dois amigos á mesa do café.
“Os filhos são uma carga de trabalhos!”, declara um, antes de levar a chávena aos lábios.
“A quem o dizes”, concorda o outro, mexendo devagar o café. “Olha o meu, já vive fora de casa, ganha o dele, mas vem todos os dias comer a comidinha da mamã, e há dias veio-me dizer que tinha tido umas despesas extra e mais a crise e não sei quê, e se eu lhe podia facilitar – ouviste bem, facilitar! – uns euritos.”
“E quanto?”, perguntei eu.
“Aí uns seiscentos, mas se for quinhentos também serve.”
“É uma pouca-vergonha”, diz o primeiro, “ganham o deles e estão sempre a sacar do nosso. E a crise serve para justificar tudo!”
Um terceiro amigo, chegado no meio da conversa:
“Vivam, ainda não li o jornal, de que Banco é que estão a falar?”

domingo, 6 de dezembro de 2009

A cinza do tempo

No ano em que começou, o Fantasporto (quem se lembra do primeiro Fantasporto ponha o dedo no ar) promoveu um Concurso do Conto Fantástico, de que resultou um livrinho com os 3 premiados e mais uns quantos recomendados pelo júri para publicação. O meu não foi premiado, mas ainda conseguiu uma boleia no referido livro.
Com alguma nostalgia, que sempre se infiltra nestes tempos pré-natalinos/solsticianos, fiz um scan do conto - já não tinha o original, e ainda que o tivesse, seriam umas folhas escritas à máquina - revi com algum trabalho - o OCR nunca é perfeito - e aqui está o dito.
Ainda gosto dele; que querem, a gente continua a gostar dos filhos mesmo depois de eles crescerem...



A cinza do tempo

Encontrei-o na Portugália. Era um fim de tarde de Verão. Eu tinha entrado para uma imperial rápida, ao balcão, uns minutos ao fresco, longe do barulho da Almirante Reis.
O que me chamou a atenção foram os copos vazios. Dois de cerveja e dois pequenos. E quando cheguei ao balcão estava ele a pedir nova dose.
- Mais uma imperial e um bagaço.

Corrupção... Face oculta... Telefonemas... Arguido... Caução... Medidas de coacção...

As palavras no título deste post fazem parte de um projecto de investigação sociológico para determinar o acréscimo de visitas a este blogue resultante da presença das referidas palavras.
Àqueles que vieram ao engano, apresento as minhas sentidas desculpas - ainda não é desta que vão saber o que queriam - mas ficam com a satisfação de ter participado num projecto científico. Quandos os resultados deste projecto derem um artigo numa revista ou uma comunicação a uma conferência, serão referidos, de forma colectiva, na secção "Agradecimentos".

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Toys 'R' here... definitivamente!


Em relação ao assunto dois posts abaixo, o "Das palavras..." está em posição de confirmar que o processo referido foi arquivado.

Tudo se baseava num mal entendido, conforme exarou o juiz de instrução no despacho de arquivamento:
"O responsável pela denúncia - ex-agente da Polícia de Costumes do antigamente - tinha treslido o título, e em vez de Brinca Comigo! tinha lido Trinca Comigo!, o que, dadas as mais óbvias conotações de trincar, comer e verbos quejandos, indiciava um claro atentado à moral e aos bons costumes. Ainda por cima com brinquedos!"
Desfeito o equívoco, os arguidos foram enviados em paz pelo juiz de instrução, com autorização expressa para continuação de brincadeiras.
"Ora", diz ainda o despacho, "na fase sorumbática, depressiva e tensa que a sociedade portuguesa atravessa, brincar é uma actividade relaxante e que favorece a boa disposição, pelo que é conducente à harmonia social."
Faz também parte do despacho uma admoestação por excesso de zelo ao zeloso ex-funcionário, que foi condenado a pagar as custas do processo.
A decisão foi acolhida com júbilo pelos arguidos, que na altura em que foram contactados assinavam livros no intervalo das Conversas Imaginárias.
Miguel Neto, o instigador da acção que deu origem a este equívoco judicial, aproveitou para informar que este convite à brincadeira se encontra à venda na EfeEneACê e "noutras boas livrarias perto de si", mas que se tiverem dificuldade em encontrar podem sempre aceder ao site da editora Escrit'orio.

E brinquem muito, porque Janeiro está aí não tarda e depois vem logo a declaração do IRS para preencher...