sábado, 6 de janeiro de 2007

No céu nasceu uma estrela

Os alienígenas chegaram finalmente à Terra, por puro acaso; o piloto-chefe da frota tinha-se enganado no caminho. Mas contrariando as previsões apocalípticas dos pessimistas, eram uma espécie benemérita. O seu maior prazer era satisfazer os desejos dos outros.
Perante visitantes tão ilustres, o Secretário-Geral da Liga dos Países Terrestres convidou os comandantes da frota a assistirem ao maior espectáculo do planeta: o festival de música “Queremos Ser Estrelas!”, envolvendo artistas concorrentes de todas as nações da Terra.
Mas os visitantes tinham um problema: levavam tudo à letra. E a distinção que faziam entre singular e plural era um pouco difusa.
Daí que, quando ouviram, na cerimónia de abertura do festival, as dezenas de milhares de concorrentes reunidos no palco gigante em Tombuctu gritar em coro “Queremos ser estrelas!”, o comandante-chefe da frota emitiu uma ordem para a nave-almirante, que com um poderoso feixe tractor puxou os concorrentes – e umas centenas adicionais de espectadores mais próximos do palco – e os levantou até atingirem a estratosfera. Aí os corpos foram envolvidos por um campo magnético fortíssimo e o plasma resultante, depois de injectado com uma mistura apropriada dos elementos deuteronómio e génesis, começou a desenvolver uma reacção em cadeia. O novo corpo celeste foi rebocado para a órbita da lua, onde ficou em posição diametralmente oposta ao satélite natural.
Duas semanas mais tarde, já a frota alienígena, após correcção da rota, tinha seguido viagem, o Secretário-Geral da Liga dos Países Terrestres repousava no jardim da sua casa de fim de semana, nos Alpes Suíços, e pensava: “Ainda bem que não lhes pedimos para acabar com a fome no mundo, ou para resolver o problema do aquecimento global... Sabe-se lá o que teriam feito!”
E entretanto observava a nova estrela que, naquela noite de lua nova, subia graciosamente no céu, a oriente...

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