quarta-feira, 18 de outubro de 2006

A morte de César

Rindo às gargalhadas, César, Brutus e mais três senadores saíram de rompante do Senado, aos tropeções, claramente embriagados. Um deles contava uma história obscena que envolvia uma matrona, a sua filha e um escravo núbio. As sentinelas puseram-se em sentido e César respondeu-lhes com um arremedo de saudação militar.
Continuaram a caminhar cambaleando, Brutus e César de braço dado, um dos outros bebendo de um odre que trazia, com o vinho a escorrer pelos cantos da boca, manchando de roxo a alvura da túnica.
O cronomóvel, que tinha sido sincronizado para os 15 minutos que incluiam a morte de César às portas do Senado, accionara a microcâmara, que registava todos os pormenores.
Julio César afastou-se alguns passos, inclinou-se e começou a vomitar. Ou outros riram.

O Conselho Supremo da Guilda dos Historiadores ouvia a exposição do Viajante. Um dos conselheiros exclamou:
- Então não houve assassinato? e Brutus estava inocente?
- Precisamente. Ao tentar endireitar-se, César tropeçou e caiu de borco. Os outros tentaram ajudá-lo a levantar-se, mas estavam tão embriagados que não conseguiram. Morreu afogado no seu próprio vómito...
- E o colega o que pretende fazer com esta informação?
- Escrever um artigo para o International Journal of Verified History, claro!
- Era o que eu receava – disse o Presidente da Guilda, e apontando uma pistola laser ao Viajante, disparou uma única vez.
Quando os robots da limpeza levavam o corpo, comentou:
- Era o que faltava, alterar a História com base numa simples verificação in loco...

Uma versão deste miniconto na língua de nuestros hermanos acaba de ser publicada aqui. Fico grato à São pela tradução.